sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Parte II

E então depois da aproximação fatal, e depois de todos os murmurinhos do pensamento se deitarem para dormir o sono dos anões, o beijo.
Fora a loucura da cabeça.
Fora os pensamentos todos.

E nesse turbilhão de emoções cruas, o calor crescia naquela casa-de-banho de restaurante. Ficava no rés-de-chão, ao fundo da sala. Tal como as paredes eram feitas de madeira, também eram as escadinhas que levavam à toilet.
E ali, naquele corredor com uma luz amarela, suave, média, de cabaret, com uma perna levantada e o salto contra a parede, puxei a cabeça para trás, ofegante da alucinante fervura que o meu corpo sentia, no meio das pernas procurava o sentir dele, puxá-lo contra mim, a respiração intensa os movimentos que não se contêm, as mãos que não chegam para tocar tanta pele, os lábios que não chegam pra beijar tudo nele, as mãos que não agarram! Sou agarrada, ambas as mãos contra a parede e fico ali, parada, imóvel, quase inerte não fosse o calor dos corpos e das línguas que serpenteiam.

Páro para respirar enquanto a sua lingua me percorre agora o pescoço com calma, ainda com as duas mãos presas contra a parede, em cima da minha cabeça.
Por um longo minuto apazigua-se toda a tesão e surge um momento de ternura-tesão. A sua língua na minha clavícula lambe devagar, devagar, e descreve todo o comprimento do osso e toda a altura da base do pescoço até ao cimo da orelha. E me morde, e me empurra com o seu corpo contra a parede de madeira. E repete, e repete, empurra-me cada vez com mais força, como quem vai penetrar mas não o faz. Um "teaser", uma maneira de me embriagar ainda mais por ele, de querer ainda mais o seu cheiro. Lentamente as suas mãos começam a descair das minhas e "no longer" estou presa por elas. Agora, enquanto descem aqueles dedos sábios sobre mim, agarro-lhe na cabeça suavemente, e, digo-lhe ao ouvido "quero-te dentro de mim"; e pego na sua mão e ponho-a sobre o meu sexo, para que ele sinta o que me fez, em que estado me deixou.
Os seus olhos doces e quentes sorriem para os meus, e solta um suspiro leve, de prazer. E ficamos assim, a olhar-nos, a descobrir-mo-nos, enquanto ele começa a descer as mãos para as minhas coxas e senti-las, apalpando-as devagar, acariciando-me.
Ah que bem me sabe o prazer que me dás, a vida dos nossos corpos e as pequenas meiguices pelo meio... Quero ficar assim para sempre na memoria de nós os dois, como um saxofone bem sensual...Senhor escultor... 


E porque a vida é feita vida, ouvimos um barulho crescente de uma conversa qualquer. São duas mulheres que se dirigem para o fundo da sala, onde nós estamos; para descerem as escadinhas de madeira, onde nós estamos. Ele pára, eu olho para ele e afasto-me, respirando um longo suspiro. Puxo a saia para baixo, e começo a subir as escadinhas de madeira em direcção à nossa mesa de jantar, onde todos nos aguardam.
Ele segue-me.
(Aquele sorriso malicioso)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O que é o "Por trás das memórias"

Jogo de palavras é PORT(r)A (s) das Memórias. O que há afinal atrás dessas coisas senão murmúrios de suspiros e emoções, o desejo expirado, exalado, exilado.
É prodígio, é maravilha, ohh como um fado desenganado em alfama, mas na rua. não no restaurante. Daquela cantora errante que bebe da alma, do canto, da voz.
Um depositário de palavras, e muito mais.
Se racionalmente falar,
Trata-se de uma forma de exteriorizar o que me vai na alma, na cabeça. São memórias, fantasias e imaginações à mistura. Não é inteiramente ficção, não é inteiramente verdade. É fruto dos pensamentos, do que poderia ter sido, do que foi, do apetite enorme pela vida que corre lá fora.

São as minhas memórias perfeitas e imperfeitas


sábado, 21 de agosto de 2010

Parte I

O escultor aproximou-se dela e rodou-lhe a cintura com a mão. Ele, mais alto do que ela, curva ligeiramente a cabeça para baixo com aqueles olhos doces. A sua timidez é visível ainda no toque das mãos trémulas, um pouco em duvida “toco, não toco? Qual a intensidade? (…) Cala-te e age!” – perto dela as palavras… não as há. Só faíscas no olhar, e mãos e braços que se querem abraçar e tocar, prazer de sentir o rosto e pele a roçar contra pele, os pêlos rudes da barba do escultor e a pele serena e quente dela.
Afaga-lhe o rosto com as costas da mão, puxando-a suavemente contra si. Sempre olhos nos olhos, um momento que dura uma eternidade. Como um beijo de alma que encontra alma e no encontro dos lábios é mais do que carne a sentir carne, é o saltar dos litros de sal e litros de açúcar que se juntam no ar e dançam para se formarem em átomos livres, directamente saídos do coração de quem se beija, como uma guitarra que encontra “aquele dedilhar”.

Ela não é a musa tradicional – imaginada a cada centímetro perfeita; um avião. É tão imperfeita, tão desagregada, um corpo gasto pelas lamurias dos sentimentos e das façanhas que provocou a ela mesma, moldando-o para o resto da sua vida sem se aperceber do que fazia. Não acredita sequer, ou até acredita mas… é estranho sentir que é real, que todo aquele momento está a acontecer.

Voltando ao momento. A musa fá-lo esquecer as palavras, algo que para ele surgem naturalmente como a sede, com qualquer pessoa. É sociável, falador, sorridente, acima de tudo usa o corpo para comunicar; mas ao olhar para ela durante todos aqueles dias a imaginação e o platonismo começam a tomar conta de si de tal forma que quando se chegava perto dela, com todas as fantasias criadas na sua cabeça… Não se conseguia exprimir. Nem tão pouco falar! E assim se passaram os dias entre eles, um mirando o outro, com curiosidade primeiro, depois já com a certeza de um interesse mútuo, seguindo-se a necessidade de se falar, tocar, uma carga de sensualidade crescia, olhares furtivos, tentativas de momentos a dois, enfim. A mais pura das paródias que ou se gostam ou se odeia, mas que acontecem a todos, sem excepção.

“#$a-sse tou farta desta merda! Não me apetece mais este pseudo-flirts que nem sei se o são. Não vês que sou feia?? Por que raio olhas para mim?? Vou é concentrar-me no livro, atender as pessoas e deixar o … mmmmmmmmm.. miam miam rapaz interessante em paz.”