sábado, 21 de agosto de 2010

Parte I

O escultor aproximou-se dela e rodou-lhe a cintura com a mão. Ele, mais alto do que ela, curva ligeiramente a cabeça para baixo com aqueles olhos doces. A sua timidez é visível ainda no toque das mãos trémulas, um pouco em duvida “toco, não toco? Qual a intensidade? (…) Cala-te e age!” – perto dela as palavras… não as há. Só faíscas no olhar, e mãos e braços que se querem abraçar e tocar, prazer de sentir o rosto e pele a roçar contra pele, os pêlos rudes da barba do escultor e a pele serena e quente dela.
Afaga-lhe o rosto com as costas da mão, puxando-a suavemente contra si. Sempre olhos nos olhos, um momento que dura uma eternidade. Como um beijo de alma que encontra alma e no encontro dos lábios é mais do que carne a sentir carne, é o saltar dos litros de sal e litros de açúcar que se juntam no ar e dançam para se formarem em átomos livres, directamente saídos do coração de quem se beija, como uma guitarra que encontra “aquele dedilhar”.

Ela não é a musa tradicional – imaginada a cada centímetro perfeita; um avião. É tão imperfeita, tão desagregada, um corpo gasto pelas lamurias dos sentimentos e das façanhas que provocou a ela mesma, moldando-o para o resto da sua vida sem se aperceber do que fazia. Não acredita sequer, ou até acredita mas… é estranho sentir que é real, que todo aquele momento está a acontecer.

Voltando ao momento. A musa fá-lo esquecer as palavras, algo que para ele surgem naturalmente como a sede, com qualquer pessoa. É sociável, falador, sorridente, acima de tudo usa o corpo para comunicar; mas ao olhar para ela durante todos aqueles dias a imaginação e o platonismo começam a tomar conta de si de tal forma que quando se chegava perto dela, com todas as fantasias criadas na sua cabeça… Não se conseguia exprimir. Nem tão pouco falar! E assim se passaram os dias entre eles, um mirando o outro, com curiosidade primeiro, depois já com a certeza de um interesse mútuo, seguindo-se a necessidade de se falar, tocar, uma carga de sensualidade crescia, olhares furtivos, tentativas de momentos a dois, enfim. A mais pura das paródias que ou se gostam ou se odeia, mas que acontecem a todos, sem excepção.

“#$a-sse tou farta desta merda! Não me apetece mais este pseudo-flirts que nem sei se o são. Não vês que sou feia?? Por que raio olhas para mim?? Vou é concentrar-me no livro, atender as pessoas e deixar o … mmmmmmmmm.. miam miam rapaz interessante em paz.”

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